Postagens

'

terça-feira, 10 de agosto de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Google ameaça democratização do livro, diz o historiador Robert Darnton

COTIDIANO / TECNOLOGIA
06.08.10 | 20h08
O historiador Robert Darnton debate o futuro do livro impresso na Flip


UOL

Qual é o futuro do livro na era digital? A pergunta é feita repetidamente já há alguns anos, mas ninguém ainda sente-se seguro para responder. A questão serviu de pretexto para dois dos mais interessantes debates na Festa Literária de Paraty.

No primeiro, realizado na noite de quinta-feira, os historiadores Robert Darnton e Peter Burke trataram do problema sob uma perspectiva histórica. No segundo encontro, na manhã de sexta, novamente com Darnton e o editor John Makinson, CEO da Penguin, o foco foi a problemática atual.

Atual diretor da biblioteca da Universidade Harvard, Darnton se disse menos preocupado com o futuro do livro propriamente do que com o direito de propriedade intelectual e o acesso livre à cultura. Por este motivo, o Google é hoje objeto de suas mais sérias críticas.

"O Google digitalizou 2 milhões de livros cujos direitos caíram no domínio público. E agora eles pretendem ganhar dinheiro com isso".

O historiador não vê problemas na venda de espaço publicitário, mas acha inadmissível que se cobre do público. "É preciso democratizar o patrimônio cultural".

A Universidade Harvard possui 14 milhões de livros. O Google, segundo Darnton, ofereceu digitalizar esse acervo de graça, para depois cobrar dos usuários o acesso aos livros. "É inaceitável. O Google está criando o maior monopólio que já vimos. É um perigo deixar este trabalho na mão de uma empresa cujo principal objetivo é o lucro de seus acionistas".

Darnton sonha com a criação de uma biblioteca nacional digital, sustentada por recursos públicos e privados, e acessível a leitores do mundo inteiro. "É uma alternativa ao monopólio".

Num momento mais ameno de sua participação, Darnton contou uma anedota. No banheiro da Universidade de Princeton, alguém escreveu: "Deus está morto. Assinado: Nietzsche". Alguns dias depois, apareceu outra pichação. Dizia: "Nietzsche está morto. Assinado: Deus". A historinha ilustra bem, segundo ele, a dificuldade em afirmar que o livro, tal como o conhecemos, está morrendo.

"Um milhão de livros serão impressos este ano no mundo. É um absurdo dizer que o livro morreu", disse Darnton. Mas não pense que ele seja ingênuo. "O futuro é digital, obviamente. Mas isso não significa que o livro impresso está morto. Pelos próximos 10, 20 anos vamos viver uma fase de transição", prevê.

No encontro de Darnton com o também historiador Peter Burke, ambos surpreenderam o público com seus elogios à Wikipédia. Burke, autor de "Uma História Social da Mídia", é o mais entusiasmado. "As enciclopédias sempre representaram o saber, a verdade. Gosto do aviso de que a Wikipedia não garante a validade dos artigos ou que determinado texto pode conter viés político".



Na visão de Burke, usando a Wikipedia as crianças são encorajadas a não acreditar em algo simplesmente porque está escrito. Darnton também elogiou a enciclopédia colaborativa online e lembrou que ela está em sua segunda fase de autocrítica.

Burke se disse "semi-otimista, ou semipessimista, como vocês preferirem" quanto ao futuro do livro. O historiador não teme o desaparecimento da obra impressa nas próximas duas décadas, mas acha que ele vai perder espaço e importância. "Vamos assistir a um 'downsizing' do livro em relação a outras mídias e os livros que sobrarem serão menores", previu.

Pior que a rejeição a livros grandes, Burke lamenta que as novas gerações percam a habilidade de ler com calma, sem pressa. "'Slow reading' e 'slow food' são importantes para a humanidade", disse.

O futuro é virtual, o problema é real

Livro digital inspira debate sobre autoria e hábito de leitura entre Peter Burke, Robert Darnton e John Makinson
07 de agosto de 2010 | 0h 00
Antonio Gonçalves Filho Enviado Especial Paraty - O Estado de S.Paulo

Dois historiadores da mesma geração, o inglês Peter Burke, de 73 anos, e o americano Robert Darnton, de 71 anos, discutiram anteontem sobre o futuro do livro na era digital, antes que o último participasse, ontem, pela manhã, de um debate com um historiador mais novo, o inglês John Makinson, de 54 anos, CEO da Penguin Books. O diagnóstico não foi nada animador para os leitores de livros físicos. Antes que todas as traças do planeta se unam para destruir os livros de papel que restam, o leitor do futuro já estará se comportando como naqueles antigos filmes de ficção onde ninguém mais lia, apenas consultava telas. Para Darnton, essa será uma imagem real e inevitável, o que vai trazer não só uma mudança na relação entre leitor e autor como a diluição do mesmo num oceano de anônimos.
Não que Darnton considere de todo negativa essa diluição. A autoria, como lembrou no debate, é uma questão burguesa, que surge paradoxalmente com a censura aos livros na república das letras do Iluminismo francês. Era, então, um mundo sem direitos autorais, em que o privilégio de publicar não pertencia ao autor de um texto, mas aos reis, que decidiam o que o cidadão das ruas podia ou não ler. Um livro não recomendado circulava, então, como uma obra pirateada, levando autor, editor e vendedor às galeras, o que equivalia à sonegação total de direitos.


Os americanos querem fazer o mesmo no século 21. As empresas internéticas pretendem que a concessão dos direitos autorais seja eterna para não pagar royalties a quem eles pertencem, lembra Darnton, que sugere com entusiasmo a formação de um movimento contra os lobistas da sonegação.

Responsável pelos 14 milhões de livros da valiosa Biblioteca da Universidade Harvard, Darnton revelou que não usa o Kindle. Tampouco Peter Burke conhece alguém que tenha lido Guerra e Paz em sua versão digital. Na biblioteca de Babel online, Tolstoi perde para Dan Brown e quem vai acabar perdendo com isso é o leitor do futuro. Burke, reforçando o pessimismo de Darnton, anteviu esse futuro como um tempo em que as crianças que aprenderam a ler na tela do computador vão pular de uma página para outra como quem ultrapassa uma barreira, fazendo da literatura uma corrida de obstáculos.

Burke, em outro exercício de futurologia, acha que o papel do livro vai diminuir em comparação com outros meios de comunicação. Sobre o conhecimento enciclopédico digital, lamenta que leitores se entreguem cegamente a ele, embora considere que os equívocos da Wikipédia possam despertar o espírito crítico dos usuários, contribuindo para o advento de um novo gênero que substitua a enciclopédia surgida no Iluminismo. Em todo o caso, tanto Burke como Darnton lembraram que, no fim do século 15, quando o livro apareceu, também ocorreu um fenômeno parecido, desorganizando o mundo da escrita, depois reorganizado.

Na manhã de ontem, a discussão tomou outro rumo. Darnton, que acompanhou a digitalização do acervo da Biblioteca de Harvard pelo Google, considera, de fato, que essa transferência para o mundo virtual se compara à passagem dos manuscritos para o texto impresso no fim do século 15. Com uma diferença fundamental: o texto virtual poderá eclipsar novamente a questão da autoria. O historiador lembra que, antes do advento dos direitos autorais, os livros eram escritos na França pré-revolucionária como num processo de bricolage, em que cada autor aproveitava do outro o que tinha de melhor, apropriando-se de trechos inteiros sem o mínimo sentimento de culpa. Num mundo que vê 1 milhão de novo livros surgindo a cada ano, pode-se imaginar o que essa collage vai significar no ciberespaço. O livro impresso, lembra Darnton, pode não desaparecer, mas o jeito de ver o mundo sim. Também por isso, Darnton discordou da intenção dos dirigentes do Google de cobrar pelas cópias digitais do acervo.

Menos apocalítptico e mais integrado que Darnton, Mackinson acha que o declínio das vendas do livro físico é inevitável e que o armazenamento digital da informação poderá trazer benefícios para o leitor do futuro, acenando com a interação entre meios eletrônicos como uma nova forma de ver e ler o livro. Darnton concorda com ele nesse sentido, lembrando que os livros digitais de história já remetem o leitor para documentários em vídeo e sons. Há, evidentemente, uma preocupação: a de que todo esse acervo desapareça por força da dinâmica do mercado. Softwares envelhecem rápido e empresas vão à falência com muita facilidade. A conservação de um acervo digital é ainda precária. Para quem o leitor vai reclamar se um livro for adulterado ou sair do ar misteriosamente do seu e-reader? Já se fala em livro por assinatura, como os canais de TV, mas Mackinson duvida que venha a ser o sistema dominante. O futuro é virtual, mas o problema é real.




Google & the Future of Books


Google & the Future of Books: An Exchange
January 14, 2010 by Brian Schottlaender, Carolyn Walters, John Wilkin, Theodore Koditschek, Brad Wheeler.E-mail Single Page Share More by Paul N. Courant, Robert Darnton, Laine Farley, Paula Kaufman, John Leslie King, Theodore Koditschek, Anthony Lewis, Brian Schottlaender, Carolyn Walters, Brad Wheeler, John Wilkin

In his recent article criticizing the Google settlement [“Google and the New Digital Future,” NYR, December 17, 2009], Robert Darnton fails to acknowledge the significant role that libraries have had in the creation of Google Book Search as well as the concrete steps they are taking to address the sorts of concerns he raises. Libraries are using Google-digitized volumes to create the “truly public library” that he seeks, and these same libraries are taking responsibility for the preservation of Google-digitized volumes.

More than thirty research libraries have made agreements with Google to digitize their collections as part of their long-standing tradition of providing the highest level of access to scholarly materials. These libraries have worked successfully with Google to ensure the integrity of their physical collections and to digitize those collections in accordance with broadly held standards for digital capture.

Many of these institutions have also shaped a coordinated strategy for preserving and providing access to their growing digital collections. In 2008 a group of twenty-five research libraries including the institutions of the Big Ten and the University of Chicago, the University of California system, and the University of Virginia joined together to create HathiTrust (www.hathitrust.org) specifically for these purposes. With the number of volumes digitized by Google soaring into the millions and with the expansion of Internet Archive and other digitization efforts, these libraries sought to ensure the long-term accessibility of this content.

The participating institutions, now including Columbia University, are committed to the persistence of the cultural record, and have centuries of experience in the public trust. The current members, whose collections make up 75 percent of all of the content in Google Book Search, underwrite the costs of this shared effort to preserve the published scholarly record in digital form, regardless of digitization vendor or source, on behalf of scholarship and the public good.


Advertisement


Providing for the long-term preservation and access of this content is no small task, yet the HathiTrust partners have had significant success in creating a secure environment in a short amount of time. HathiTrust’s mission is “to contribute to the public good by collecting, organizing, preserving, communicating, and sharing the record of human knowledge,” and it is already doing so for nearly five million volumes. This number will increase by millions as libraries continue their digitization projects with Google and others.

HathiTrust is a public good and provides as much access to its content as legally possible. Nearly one million volumes of the current holdings are in the public domain and accessible to anyone with a Web browser. This number will grow as the overall number of volumes continues to grow. HathiTrust provides a suite of services to scholars and others, including full-text and bibliographic search across the entire repository. All of HathiTrust’s services are separate from Google’s. HathiTrust partners have undertaken ongoing copyright review of orphan works to open access to volumes that are, in fact, in the public domain. Thousands of these volumes have already been opened, as well as a growing number of volumes that rights holders give HathiTrust permission to make available online.

Libraries are much further ahead in the game than Darnton would have readers believe. Although there are disappointments for Google partner libraries in the settlement agreement, libraries have worked to secure important privileges, including significant influence over the commercial pricing of Google’s Book Search product. The settlement also sanctions important uses of digital volumes, including those that are in copyright. These include providing access to content to users with print disabilities and using libraries’ digitized volumes in large-scale computational research. Opening the enormous body of Google-scanned content to new user populations and methods of inquiry will have a transformative effect on our ability to produce and analyze knowledge about our society, our heritage, and the world. We invite Harvard to join us in this endeavor!

Paul Courant, University Librarian and Dean of Libraries, University of Michigan
Laine Farley, Executive Director, California Digital Library
Paula Kaufman, University Librarian and Dean of Libraries, University of Illinois at Champaign-Urbana
John Leslie King, Vice Provost for Academic Information, University of Michigan
Brian Schottlaender, University Librarian, University of California, San Diego Libraries
Carolyn Walters, Interim Dean of Libraries, Indiana University
Brad Wheeler, Chief Information Officer, Indiana University
John Wilkin, Executive Director of HathiTrust and Associate University Librarian, Library Information Technology, University of Michigan

To the Editors:

In his article on the Google book digitization project Robert Darnton spoke in passing of faults “that mar Google’s enterprise.” He mentioned, among other things, “missing pages,” “omitted artwork,” and “censoring.” No doubt because I have not followed the controversy closely, these charges were news to me—and troubling, not least the idea of Google censoring books. It would be useful if Darnton could give any specific examples of such faults.

Anthony Lewis
Cambridge, Massachusetts

To the Editors:

Robert Darnton is right to suggest that the US government, or some other quasi-public consortium, should buy out Google’s vast digital library of orphaned and out-of-print books. If Google insists on retaining these holdings, it should be assigned the status of a public utility—like a gas, water, or electric company—and the appropriate regulatory authority should be set up. As with any monopoly of an essential public service, prices should be controlled, privacy should be protected, and open access should be guaranteed. Google is entitled to a reasonable return on its investment, but if future business decisions jeopardize this essential human resource, another provider should be found, and Google should be forced to divest.

Theodore Koditschek
Department of History
University of Missouri Columbia, Missouri

Robert Darnton replies:
As my friends from Michigan know, I think the HathiTrust is a good thing and have applauded it from the beginning. It provides a remedy to one of the weaknesses in Google Book Search (GBS) by assuming responsibility for the preservation of the digital material. Although we had developed a preservation program at Harvard long before the creation of Hathi, we are eager to cooperate with it.

The subject of my article was not Hathi but rather the revised settlement between Google and the authors and publishers who have sued it for alleged infringement of copyright. As the Department of Justice argued in its memorandum against the original settlement, GBS uses the device of a class-action suit to obtain an exclusive license to digitize and market unclaimed books—that is, copyrighted books that are out of print, including millions of so-called “orphans,” whose copyright remains unclaimed. According to the DOJ, “This de facto exclusivity (at least as to orphan works) appears to create a dangerous probability that only Google would have the ability to market to libraries and other institutions a comprehensive digital-book subscription.”

The Amended Settlement Agreement (ASA) does not correct this basic flaw. Neither does Hathi, whose functions are limited primarily to preservation. As Pamela Samuelson, a professor at the law school of the University of California, Berkeley, has pointed out, Google’s potential competitors will not have access to orphan books unless Congress passes legislation authorizing them to do so:

As a result, the main orphan book scam of the GBS settlement—that Google will get a de facto compulsory license from the settlement class that authorizes the firm to commercialize all out-of-print books covered by the settlement, including importantly the orphans—remains a serious problem with GBS 2.0 [i.e., the ASA].

I am puzzled by the letter writers’ claim that Hathi amounts to a “truly public library.” Public libraries make books and other materials accessible free of charge to readers. But the ASA prohibits any preservation facility like Hathi from letting readers read its books, except under very restricted circumstances. Similar prohibitions prevent libraries from allowing users to read the digitized copies made from their own holdings and provided to them by Google as a “Library Digital Copy” (LDC). Users may see a table of contents and short snippets, and in university libraries some faculty members may read as many as five pages of a book in the LDC, provided that it is out of print.

These terms—see the ASA, section 7.2 (b. iv, vii, and x)—prevent Hathi from performing the main function of a library. If they were amended, the way might be cleared for a national digital library. In its current form, however, the ASA subjects library holdings, which should be considered as public assets, to a private speculation, and by doing so it reinforces a powerful commercial monopoly.

In response to Anthony Lewis’s letter, while I have discussed problems of Google’s accuracy in these pages,* I should explain that I cannot provide examples of censorship by Google, because the ASA is still working its way through the courts and has not yet been applied. The revised settlement does not use the term “censorship,” but section 3.7(e) states: “Google may, at its discretion, exclude particular Books from one or more Display Uses for editorial or non-editorial reasons.” It goes on to assert that because Google and the plaintiffs “value the principle of freedom of expression,” Google will notify the Book Rights Registry of any book it excludes. Notification of exclusion hardly serves as a substitute for inclusion.

Google’s digital database will therefore lack every book that Google chooses to exclude. The early version of the settlement limited this authorization to 15 percent of the books in the corpus, but the ASA makes no mention of a limit. Because Google will own the digital works in the database, it can dispose of its property as it pleases—just as Rupert Murdoch did in 1998 when he was extending his media empire into China and refused to let his company, HarperCollins, publish a book by Christopher Patten that criticized Chinese policy in Hong Kong.

I like Theodore Koditschek’s suggestion that Google be treated as a public utility subject to regulation in the public interest. If that seems unrealistic, one should consider a compromise solution, which would draw a line between the books digitized by Google that are strictly commercial and the books that are no longer in print, although some of them are still covered by copyright. Google would continue with its project to commercialize digital copies of books currently in print, sharing the proceeds with the rights holders. At the same time, it would continue to scan out-of-print books and to include them in a database that would constitute a separate, open-access repository. The rights holders of the in-copyright but out-of-print books in that database would be given the opportunity to choose to keep their books out of the open-access plan and, if they preferred, to include their books in Google’s commercial operation.

This opt-out provision would be adapted from the similar provision of the ASA, which permits rights holders to remove their works from Google Book Search. By doing so, it would take advantage of the class-action character of the original lawsuit in order to promote a nonprofit project dedicated to the public good. The books in the open-access repository would be protected against litigation without recourse to legislation by Congress, and they would be merged with books in the public domain, forming a gigantic database—that is, a national digital library. (Of the ten million books that Google has digitized, roughly two million are in the public domain and six million are out of print but still protected by copyright.)

This collection would grow as copyrights expired and as more research libraries—perhaps Harvard, the New York Public Library, and the Library of Congress (which holds 32 million catalogued books)—agreed to participate, for they would have no qualms about devoting their collections to a genuine public library as opposed to a private commercial enterprise. Suitable measures would be taken to protect privacy and to win the support of foreign rights holders so that the American digital library would be interoperable with the European digital library funded by the European Commission, and other digital repositories, creating an international library on a truly global scale. Meanwhile, Google, the Authors Guild, and the Association of American Publishers would continue to draw income from the separate digital database composed of books that are currently in print and of out-of-print books whose rights holders elected to participate in Google Book Search. Google and the plaintiffs would suffer no loss of income, and they would gain goodwill from having contributed to the public welfare.

Não Contem com o Fim do Livro


13/03/2010

Andrea Barbiroli/AE

Umberto Eco assina novo trabalho em parceria com o roteirista francês Jean-Claude Carrière


‘Eletrônicos duram 10 anos; livros, 5 séculos’, diz Umberto Eco
Ensaísta e escritor italiano fala em entrevista exclusiva de seu novo trabalho, ‘Não Contem com o Fim do Livro’

MILÃO – O bom humor parece ser a principal característica do semiólogo, ensaísta e escritor italiano Umberto Eco. Se não, é a mais evidente. Ao pasmado visitante, boquiaberto diante de sua coleção de 30 mil volumes guardados em seu escritório/residência em Milão, ele tem duas respostas prontas quando é indagado se leu toda aquela vastidão de papel. “Não. Esses livros são apenas os que devo ler na semana que vem. Os que já li estão na universidade” – é a sua preferida. “Não li nenhum”, começa a segunda. “Se não, por que os guardaria?”

Na verdade, a coleção é maior, beira os 50 mil volumes, pois os demais estão em outra casa, no interior da Itália. E é justamente tal paixão pela obra em papel que convenceu Eco a aceitar o convite de um colega francês, Jean-Phillippe de Tonac, para, ao lado de outro incorrigível bibliófilo, o escritor e roteirista Jean-Claude Carrière, discutir a perenidade do livro tradicional. Foram esses encontros (“muito informais, à beira da piscina e regados com bons uísques”, informa Umberto Eco) que resultaram em Não Contem Com o Fim do Livro, que a editora Record lança na segunda quinzena de abril.

A conclusão é óbvia: tal qual a roda, o livro é uma invenção consolidada, a ponto de as revoluções tecnológicas, anunciadas ou temidas, não terem como detê-lo. Qualquer dúvida é sanada ao se visitar o recanto milanês de Eco, como fez o Estado na última quarta-feira. Localizado diante do Castelo Sforzesco, o apartamento – naquele dia soprado por temperaturas baixíssimas, a neve pesada insistindo em embranquecer a formidável paisagem que se avista de sua sacada – encontra-se em um andar onde antes fora um pequeno hotel. “Se eram pouco funcionais para os hóspedes, os longos corredores são ótimos para mim pois estendo aí minhas estantes”, comenta o escritor, com indisfarçável prazer, ao apontar uma linha reta de prateleiras repletas que não parecem ter fim. Os antigos quartos? Transformaram-se em escritórios, dormitórios, sala de jantar, etc. O mais desejado, no entanto, é fechado a chave, climatizado e com uma janela que veda a luz solar: lá estão as raridades, obras produzidas há séculos, verdadeiros tesouros. Isso mesmo: tesouros de papel.

Conhecido tanto pela obra acadêmica (é professor aposentado de semiótica, mas ainda permanece na ativa na Faculdade de Bolonha) como pelos romances (O Nome da Rosa, publicado em 1980, tornou-se um best-seller mundial), Eco é um colecionador nato; além de livros, gosta também de selos, cartões-postais, rolhas de champanhe. Na sala de seu apartamento, estantes de vidro expõem tantos os livros raros – que, no momento, lideram sua preferência – como conchas, pedras, pedaços de madeira. As paredes expõem quadros que Eco arrematou nas visitas que fez a vários países ou que simplesmente ganhou de amigos – caso de Mário Schenberg (1914-1990), físico, político e crítico de arte brasileiro, de quem o escritor guarda as melhores recordações.

Aos 78 anos, Eco – que tem relançado no País Arte e Beleza na Estética Medieval (Record, 368 págs., R$ 47,90, tradução de Mario Sabino) – exibe uma impressionante vitalidade. Diverte-se com todo tipo de cinema (ao lado de seu aparelho de DVD repousa uma cópia da animação Ratatouille), mantém contato com seus alunos em Bolonha, escreve artigos para jornais e revistas e aceita convites para organizar exposições, como a que o transformou, no ano passado, em curador, no Museu do Louvre, em Paris. Lá, o autor teve o privilégio de passear sozinho pelos corredores do antigo palácio real francês nos dias em que o museu está fechado. E, como um moleque levado, aproveitou para alisar o bumbum da Vênus de Milo. Foi com esse mesmo espírito bem-humorado que Eco – envergando um elegante terno azul-marinho, que uma revolta gravata da mesma cor tratava de desalinhar; o rosto sem a característica barba grisalha (raspada religiosamente a cada 20 anos e, da última vez, em 2009, também porque o resistente bigode preto o fazia parecer Gengis Khan nas fotos) – conversou com a reportagem do Sabático.

O livro não está condenado, como apregoam os adoradores das novas tecnologias?

O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, que me perguntam isso há 15 anos. Mesmo eu tendo escrito um artigo sobre o tema, continua o questionamento. O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Afinal, ciência significa fazer novas experiências. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos? Conversei recentemente com o diretor da Biblioteca Nacional de Paris, que me disse ter escaneado praticamente todo o seu acervo, mas manteve o original em papel, como medida de segurança.

Qual a diferença entre o conteúdo disponível na internet e o de uma enorme biblioteca?

A diferença básica é que uma biblioteca é como a memória humana, cuja função não é apenas a de conservar, mas também a de filtrar – muito embora Jorge Luis Borges, em seu livro Ficções, tenha criado um personagem, Funes, cuja capacidade de memória era infinita. Já a internet é como esse personagem do escritor argentino, incapaz de selecionar o que interessa – é possível encontrar lá tanto a Bíblia como Mein Kampf, de Hitler. Esse é o problema básico da internet: depende da capacidade de quem a consulta. Sou capaz de distinguir os sites confiáveis de filosofia, mas não os de física. Imagine então um estudante fazendo uma pesquisa sobre a 2.ª Guerra Mundial: será ele capaz de escolher o site correto? É trágico, um problema para o futuro, pois não existe ainda uma ciência para resolver isso. Depende apenas da vivência pessoal. Esse será o problema crucial da educação nos próximos anos.

Não é possível prever o futuro da internet?

Não para mim. Quando comecei a usá-la, nos anos 1980, eu era obrigado a colocar disquetes, rodar programas. Hoje, basta apertar um botão. Eu não imaginava isso naquela época. Talvez, no futuro, o homem não precise escrever no computador, apenas falar e seu comando de voz será reconhecido. Ou seja, trocará o teclado pela voz. Mas realmente não sei.

Como a crescente velocidade de processar dados de um computador poderá influenciar a forma como absorvemos informação?

O cérebro humano é adaptável às necessidades. Eu me sinto bem em um carro em alta velocidade, mas meu avô ficava apavorado. Já meu neto consegue informações com mais facilidade no computador do que eu. Não podemos prever até que ponto nosso cérebro terá capacidade para entender e absorver novas informações. Até porque uma evolução física também é necessária. Atualmente, poucos conseguem viajar longas distâncias – de Paris a Nova York, por exemplo – sem sentir o desconforto do jet lag. Mas quem sabe meu neto não poderá fazer esse trajeto no futuro em meia hora e se sentir bem?

É possível existir contracultura na internet?

Sim, com certeza, e ela pode se manifestar tanto de forma revolucionária como conservadora. Veja o que acontece na China, onde a internet é um meio pelo qual é possível se manifestar e reagir contra a censura política. Enquanto aqui as pessoas gastam horas batendo papo, na China é a única forma de se manter contato com o restante do mundo.

Em um determinado trecho de ‘Não Contem Com o Fim do Livro’, o senhor e Jean-Claude Carrière discutem a função e preservação da memória – que, como se fosse um músculo, precisa ser exercitada para não atrofiar.

De fato, é importantíssimo esse tipo de exercício, pois estamos perdendo a memória histórica. Minha geração sabia tudo sobre o passado. Eu posso detalhar sobre o que se passava na Itália 20 anos antes do meu nascimento. Se você perguntar hoje para um aluno, ele certamente não saberá nada sobre como era o país duas décadas antes de seu nascimento, pois basta dar um clique no computador para obter essa informação. Lembro que, na escola, eu era obrigado a decorar dez versos por dia. Naquele tempo, eu achava uma inutilidade, mas hoje reconheço sua importância. A cultura alfabética cedeu espaço para as fontes visuais, para os computadores que exigem leitura em alta velocidade. Assim, ao mesmo tempo que aprimora uma habilidade, a evolução põe em risco outra, como a memória. Lembro-me de uma maravilhosa história de ficção científica escrita por Isaac Asimov, nos anos 1950. É sobre uma civilização do futuro em que as máquinas fazem tudo, inclusive as mais simples contas de multiplicar. De repente, o mundo entra em guerra, acontece um tremendo blecaute e nenhuma máquina funciona mais. Instala-se o caos até que se descobre um homem do Tennessee que ainda sabe fazer contas de cabeça. Mas, em vez de representar uma salvação, ele se torna uma arma poderosa e é disputado por todos os governos – até ser capturado pelo Pentágono por causa do perigo que representa (risos). Não é maravilhoso?

No livro, o senhor e Carrière comentam sobre como a falta de leitura de alguns líderes influenciou suas errôneas decisões.

Sim, escrevi muito sobre informação cultural, algo que vem marcando a atual cultura americana que parece questionar a validade de se conhecer o passado. Veja um exemplo: se você ler a história sobre as guerras da Rússia contra o Afeganistão no século 19, vai descobrir que já era difícil combater uma civilização que conhece todos os segredos de se esconder nas montanhas. Bem, o presidente George Bush, o pai, provavelmente não leu nenhuma obra dessa natureza antes de iniciar a guerra nos anos 1990. Da mesma forma que Hitler devia desconhecer os relatos de Napoleão sobre a impossibilidade de se viajar para Moscou por terra, vindo da Europa Ocidental, antes da chegada do inverno. Por outro lado, o também presidente americano Roosevelt, durante a 2.ª Guerra, encomendou um detalhado estudo sobre o comportamento dos japoneses para Ruth Benedict, que escreveu um brilhante livro de antropologia cultural, O Crisântemo e a Espada. De uma certa forma, esse livro ajudou os americanos a evitar erros imperdoáveis de conduta com os japoneses, antes e depois da guerra. Conhecer o passado é importante para traçar o futuro.

Diversos historiadores apontam os ataques terroristas contra os americanos em 11 de setembro de 2001 como definidores de um novo curso para a humanidade. O senhor pensa da mesma forma?

Foi algo realmente modificador. Na primeira guerra americana contra o Iraque, sob o governo de Bush pai, havia um confronto direto: a imprensa estava lá e presenciava os combates, as perdas humanas, as conquistas de território. Depois, em setembro de 2001, se percebeu que a guerra perdera a essência de confronto humano direto – o inimigo transformara-se no terrorismo, que podia se personificar em uma nação ou mesmo nos vizinhos do apartamento ao lado. Deixou de ser uma guerra travada por soldados e passou para as mãos dos agentes secretos. Ao mesmo tempo, a guerra globalizou-se; todos podem acompanhá-la pela televisão, pela internet. Há discussões generalizadas sobre o assunto.

Falando agora sobre sua biblioteca, é verdade que ela conta com 50 mil volumes?

Sim, de uma forma geral. Nesse apartamento em Milão, estão apenas 30 mil – o restante está no interior da Itália, onde tenho outra casa. Mas sempre me desfaço de algumas centenas, pois, como disse antes, é preciso fazer uma filtragem.

Por que o senhor impediu sua secretária de catalogá-los?

Porque a forma como você organiza seus livros depende da sua necessidade atual. Tenho um amigo que mantém os seus em ordem alfabética de autores, o que é absolutamente estúpido, pois a obra de um historiador francês vai estar em uma estante e a de outro em um lugar diferente. Eu tenho aqui literatura contemporânea separada por ordem alfabética de países. Já a não contemporânea está dividida por séculos e pelo tipo de arte. Mas, às vezes, um determinado livro pode tanto ser considerado por mim como filosófico ou de estética da arte; depende do motivo da minha pesquisa. Assim, reorganizo minha biblioteca segundo meus critérios e somente eu, e não uma secretária, pode fazer isso. Claro que, com um acervo desse tamanho, não é fácil saber onde está cada livro. Meu método facilita, eu tenho boa memória, mas, se algum idiota da família retira alguma obra de um lugar e a coloca em outro, esse livro está perdido para sempre. É melhor comprar outro exemplar (risos).

Um estudioso que também é seu amigo, Marshall Blonsky, escreveu certa vez que existe de um lado Umberto, o famoso romancista, e de outro Eco, professor de semiótica.

E ambos sou eu (risos). Quando escrevo romances, procuro não pensar em minhas pesquisas acadêmicas – por isso, tiro férias. Mesmo assim, leitores e críticos traçam diversas conexões, o que não discuto. Lembro de que, quando escrevia O Pêndulo de Foucault, fiz diversas pesquisas sobre ciência oculta até que, em um determinado momento, elas atingiram tal envergadura que temi uma teorização exagerada no romance. Então, transformei todo o material em um curso sobre ciência oculta, o que foi muito bem-feito.

Por falar em ‘O Pêndulo de Foucault’, comenta-se que o senhor antecipou em muito tempo O Código de Da Vinci, de Dan Brown.

Quem leu meu livro sabe que é verdade. Mas, enquanto são os meus personagens que levam a sério esse ocultismo barato, Dan Brown é quem leva isso a sério e tenta convencer os leitores de que realmente é um assunto a ser considerado. Ou seja, fez uma bela maquiagem. Fomos apresentados neste ano em uma première do Teatro Scala e ele assim se apresentou: “O senhor não me admira, mas eu gosto de seus livros.” Respondi: Não é que eu não goste de você – afinal, eu criei você (risos).

Em seu mais conhecido romance, O Nome da Rosa, há um momento em que se discute se Jesus chegou a sorrir. É possível pensar em senso de humor quando se trata de Deus?

De acordo com Baudelaire, é o Diabo quem tem mais senso de humor (risos). E, se Deus realmente é bem-humorado, é possível entender por que certos homens poderosos agem de determinada maneira. E se ainda a vida é como uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, como Shakespeare apregoa em Macbeth, é preciso ainda mais senso de humor para entender a trajetória da humanidade.

Como foi a exposição no Museu do Louvre, em Paris, da qual o senhor foi curador, no ano passado?

Há quatro anos, o museu reserva um mês para um convidado (Toni Morrison foi escolhida certa vez) organizar o que bem entender. Então, me convidaram e eu respondi que queria fazer algo sobre listas. “Por quê?”, perguntaram. Ora, sempre usei muitas listas em meus romances – até pensei em escrever um ensaio sobre esse hábito. Bem, quando se fala em listas na cultura, normalmente se pensa em literatura. Mas, como se trata de um museu, decidi elaborar uma lista visual e musical, essa sugerida pela direção do Louvre. Assim, tive o privilégio (que não foi oferecido a Dan Brown) de visitar o museu vazio, às terças-feiras, quando está fechado. E pude tocar a bunda da Vênus de Milo (risos) e admirar a Mona Lisa a apenas 20 centímetros de distância.

O senhor esteve duas vezes no Brasil, em 1966 e 1979. Que recordações guarda dessas visitas?

Muitas. A primeira, em São Paulo, onde dei algumas aulas na Faculdade de Arquitetura (da USP), que originaram o livro A Estrutura Ausente. Já na segunda fui acompanhado da família e viajamos de Manaus a Curitiba. Foi maravilhoso. Lembro-me de meu editor na época pedindo para eu ficar para o carnaval e assistir ao desfile das escolas de samba de camarote, o que não pude atender. E também me recordo de imagens fortes, como a da moça que cai em transe em um terreiro (para o qual fui levado por Mario Schenberg) e que reproduzo em O Pêndulo de Foucault.

» Ubiratan Brasil, enviado especial in Caderno 2 – Estadão

Projeto do Google Books gera polêmica


Juliana Krapp, Jornal do Brasil

RIO -

Quem abre o Google Books, página virtual dedicada aos livros do buscador mais usado no mundo, depara-se com a nota: “O Google selou um acordo revolucionário com autores e editoras”. A frase solta está interligada a outra página, dedicada a explicar “o futuro da pesquisa de livros do Google”. Na semana passada, porém, o jornal New York Times anunciou que esse futuro anunciado está em xeque. O Departamento de Justiça americano, de olho na possível criação de um monopólio livreiro, abriu um inquérito para investigar o tal “acordo revolucionário” – acerto que a empresa está fazendo com editoras e autores para a reprodução de livros ou trechos de livros no Google Books. As investigações teriam partido de protestos de representantes de organizações como a Internet Archive (uma biblioteca virtual sem fins lucrativos que desde 1996 disponibiliza gratuitamente 150 milhões de páginas web) e a Consumer Watchdog (uma das principais organizações de defesa dos consumidores nos Estados Unidos), que se opõem ao acordo.

Quase ao mesmo tempo, o Google divulgava os detalhes de sua mais recente novidade no mundo tecnológico: o registro da patente 750897, que diz respeito a um poderoso scanner. Lançando mão de técnicas como raios infravermelhos, o novo equipamento escaneia textos com velocidade e qualidade muito maiores do que os convencionais, e seria um importante aliado para o projeto da empresa de criar o maior acervo de livros digitais do planeta – para o qual o “acordo revolucionário” é tão importante.


O acordo tem causado polêmica entre editoras e escritores de diferentes países. Além das manifestações de repúdio da Internet Archive e da Consumer Watchdog, a Federação de Editores da Espanha manifestou, recentemente, sua discordância diante da proposta. Na Europa e na América Latina, escritores têm apoiado ou criticado, em seus blogs, a iniciativa do Google. No Peru, o escritor Iván Thays, finalista do Prêmio Herralde de 2008, incitou em seu blog autores do mundo todo a recusarem o acordo com o buscador – isso apesar de ser ele próprio um defensor ferrenho do formato digital de livros.


– Não se pode saber o que o Google fará com esses direitos, a quem os venderá e que limites têm esse acordo ante a aparição de novas tecnologias – explicou, ao Ideias. – É outorgar um poder às cegas, e eu não estou de acordo com isso.

Período de estudos

Enquanto o debate esquenta em outros países, no Brasil autores e editores tampouco sabem ao certo do que se trata. Por enquanto, o único núcleo dedicado a debater o confuso texto do acordo é o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), que concentrou advogados na árdua missão de analisar as implicações legais da aceitação ou não dos termos propostos. Ainda assim, eles não chegaram a uma conclusão.


– Por enquanto, está tudo em aberto. Estamos estudando e discutindo com calma – justifica a editora Mariana Zahar, uma das envolvidas no debate dentro do sindicato.


O acordo surgiu quando a Authors Guild (espécie de associação de autores americanos), a Association of American Publishers (Associação de Editoras Americanas) e um grupo de escritores e editoras moveram uma ação coletiva contra o Google Books, há três anos. Em 2005, a empresa começara a digitalização de livros em várias bibliotecas americanas, compondo o material disponível para seu acervo on-line. O processo contra o Google alegava que o procedimento viola os direitos dos autores. A empresa, no entanto, nega as acusações, afirmando que só libera o acesso integral às obras em domínio público.


– No caso de textos protegidos por direitos autorais, o Google Books não exibe seu conteúdo integral (alguns trechos do livro são exibidos de acordo com uma busca feita por palavra-chave, por meio de um sistema de indexação), e isso está permitido pelas leis americanas – defende Rodrigo Velloso, Diretor de Desenvolvimento de Negócios do Google Brasil. – Além disso, o Google não lucrava com essas exibições.


Pelos termos do acordo – que ainda não foi aprovado (a audiência pública final será em outubro, em Nova York) – o Google irá pagar os direitos que devia a autores e editores. Mas, para isso, ambas as classes devem reivindicar o pagamento, o que pode ser feito por um formulário disponível no site de administração do acordo (www.googlebooksettlement.com). Os valores são fixos: o Google pagará US$ 60 pelo que chama de “trabalho principal”, US$ 15 por “inserção inteira” e US$ 5 por “inserção parcial”.


Os detentores de direitos autorais também podem optar por não aceitar a proposta do Google – mas, para isso, devem enviar à empresa, até 4 de setembro, um formulário onde indicam essa decisão. Reside aí um dos pontos mais polêmicos do acordo.


– A postura do Google é inversa à de qualquer editor decente. Ela nos diz: “nós já pegamos, sem sua permissão, os seus direitos; se quer evitá-lo, envie-nos uma carta” – protesta Thays, que já enviou a sua. – Não posso esperar nenhum acordo justo com uma empresa que atua dessa maneira desde o princípio.


Faz parte do acordo, também, a criação da Book Rights Registry, uma entidade que começará a funcionar com o financiamento de US$ 35 milhões do Google e que será gerida por associações de autores e de editores americanos (os mesmos que começaram a ação coletiva).


– É uma entidade independente, que vai centralizar os cadastros de direitos de livros e servir de intermediária entre os detentores dos direitos e os usos do Google – explica Velloso, que acrescenta: – Se no futuro uma outra empresa quiser fazer um serviço parecido ao do Google, também será intermediada pela Book Rights Registry.


A questão é: quando haverá uma empresa capaz de concorrer com o Google na digitalização de tantos livros?

– O tipo de movimento que está acontecendo com a digitalização de livros nos Estados Unidos é bom, mas desde que haja concorrência. E hoje, nenhuma empresa, exceto o Google, pode oferecer esse serviço. Sendo assim, não há concorrência – diz o advogado Ronaldo Lemos, diretor da Creative Commons Brasil (projeto sem fins lucrativos que disponibiliza licenças flexíveis para obras intelectuais).


Lucia Riff, uma das mais atuantes agentes literárias no país, também dá o seu parecer:

– É importante que haja meios de divulgação de livros como esse. Por outro lado, o acordo dá um poder inacreditável ao Google.


Esse poder ao qual se refere Lucia vem do fato de que, ao aderir ao acordo, os detentores de direitos autorais estão permitindo que o Google digitalize suas obras – mesmo que, pelo acordo, o tipo de visualização disponível no buscador seja definido de antemão.

– Além disso, o acordo só se aplica aos livros que não estão comercialmente disponíveis, ou seja: os esgotados – assegura Velloso.


O que não acalma muito as preocupações da turma do contra, uma vez que, segundo dados do Online Computer Library Center (OCLC), citados pelo próprio Velloso, dos 55 milhões de títulos existentes no mundo hoje, 10% representam o catálogo ativo das editoras, 15% estão em domínio público e 75% – ou 40 milhões – são livros não comercializados, que ainda não estão em domínio público.


É aí que entra uma outra questão crucial para a polêmica do acordo: os chamados livros “órfãos”, ou seja, que não têm direitos autorais definidos. Alguns grupos acusam o Google de aproveitar o acordo para obter o passe livre para a venda desses títulos. Velloso, no entanto, afirma que a receita obtida com a visualização dessas obras é que irá garantir a sobrevivência, no futuro, da Book Rights Registry.


Por enquanto, o que está previsto no acordo, segundo o diretor, é que o Google vai disponibilizar aos usuários a visualização de 20% das páginas de uma obra – sem permitir cópias ou impressões – e comercializar o acesso on-line aos livros completos. A receita obtida com essa venda será dividida da seguinte forma: 63% para os detentores dos direitos autorais e 37% para o Google. No caso de títulos órfãos, o valor equivalente aos direitos autorais seria repassado ao Book Rights Registry. Além disso, o Google também poderá “vender” sua base de dados para instituições como universidades e centros de pesquisa.


Barreiras geográficas

Outro fato bastante polêmico é que, caso seja aprovado o acordo, a enorme biblioteca virtual criada pelo Google ficará disponível apenas para quem estiver em território americano – ou melhor, para quem tiver no computador um IP americano – uma vez que as leis de direitos autorais variam de país a país.


– Esse acordo, infelizmente, acaba reforçando as barreiras geográficas da internet, o que é uma tendência cada vez mais forte – lamenta Lemos.


Mas, se no quesito acesso as barreiras geográficas são ressaltadas, no momento de organizar o monumental acervo que se tornará o Google Books, as fronteiras são tênues. Eis aí um outro ponto controverso no acordo: como ele parte da digitalização de livros disponíveis em bibliotecas americanas, e estas reúnem acervos de diferentes nacionalidades, muitas obras brasileiras, por exemplo, estão à mercê do acordo. Embora os detentores de seus direitos raramente estejam atentos a isso.


Mariana Zahar, quando baixou a planilha com a descrição dos livros de sua editora que se enquadrariam no acordo, ficou pasma. Em vez dos cerca de 50 títulos que imaginava disponíveis, havia 750. Agora, ela precisa decifrar, junto com os advogados acionados pelo sindicato, as mais de 400 páginas que descrevem o acordo, e discutir com os seus colegas o que é mais saudável para o mercado: acatar ou não as regras do jogo, que está, atualmente, repleto de pontos obscuros.


– O caso de livros de literatura estrangeira que já estiveram no nosso catálogo, mas estão agora esgotados, por exemplo, nos traz um problema. Porque os direitos da obra em si foram revertidos para a fonte original, mas os direitos para tradução para o português é nossa. O que fazer? – pergunta.


Em meio às dúvidas de Mariana, se sobressai o desconhecimento de editores e autores brasileiros, que ainda sequer começaram a moldar uma opinião sobre o assunto.


– Não estou totalmente a par – explicou elegantemente Bernardo Carvalho.


– Não estou acompanhando a discussão – disse Patricia Melo.


– Estou totalmente por fora desse assunto. Sou um péssimo internauta – assegurou Milton Hatoum.


Já Daniel Galera é um dos poucos a ter uma opinião mais definida:

– Apóio a digitalização de livros e acho que as empresas que investirem nisso devem, sim, ter direito a uma parcela de copyrights. Mas não preciso liberar um livro meu para o Google Books porque posso eu mesmo colocar o texto na rede e distribui-lo da forma que quiser.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Atenas 3

Atenas 2

Informações Turísticas de Atenas 1

Ilhas Gregas que visitarei: Poros, Hydra e Aegina

Atenas...

Grandes Civilizações: GRÉCIA

terça-feira, 22 de junho de 2010

Edemar Amaral Cavalcante:

possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2006). Atualmente é Analista Educacional do Órgão Central da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Trabalhou como Diretor Pedagógio e Analista Educacional da Superintendência Regional de Ensino de Ouro Preto - SEE / MG em 2007 e 2008. Foi auxiliar de secretaria escolar da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte de 2005 a 2006. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Métodos e Técnicas de Ensino, atuando principalmente nos seguintes temas: Avaliação, alfabetização leitura e escrita, letramento, alfabetização de jovens e adultos, métodos e técnicas de ensino, etnografia e estrutura de sala de aula. Hoje pesquisa e estuda: Gêneros Textuais, Literatura, Leitor, Teoria Literária e Estética da Recepção.